A Teologia da Figura Central

Ao longo do tempo essa terminologia assumiu uma interpretação errônea e distorcida, talvez pelo desconhecimento mais aprofundado do próprio Princípio Divino, ou pela ausência de mais conteúdos a partir das Palavras do Verdadeiro Pai. O que vale destacar é que a expressão “Figura central” passou a ser associada com qualquer pessoa que tenha uma posição hierárquica na Igreja de Unificação. Essa associação indevida tem sido constantemente martelada como um dogma ideológico; e tem acarretado sérios problemas de entendimento da verdadeira posição dos Verdadeiros Pais de Céu, Terra e Humanidade, e as demais posições dentro da organização social da Igreja de Unificação.

Neste sentido, vamos analisar primeiramente o que o próprio Princípio Divino explica sobre essa terminologia. A primeira citação está no Capítulo 3 – Escatologia, na seção 5.2 – A Nossa Atitude nos Últimos Dias, especificamente na página 118, que diz:

Noé, Abraão, Moisés e Jesus foram aqueles a quem Deus elevou como as figuras centrais de suas respectivas idades.  Hoje, neste período de transição histórica, devemos encontrar a pessoa a quem Deus designou como a figura central da nova providência a fim de que possamos participar nesta nova idade e honrar a vontade de Deus.

Cabe comentar que, apesar de aparecer no plural, a citação figuras centrais de suas respectivas idades não significa que há várias figuras centrais em um mesmo momento histórico. Está bem claro que em cada respectiva idade, houve uma única figura central encarregada de conduzir a providência. Vamos analisar a seguinte citação da terminologia ‘figura central’ no Princípio Divino. O próximo trecho está no Capítulo 5 – Ressurreição, na seção 3.2 – A Unificação de Todas as Religiões Através da Ressurreção da Volta, na página 164-165, que diz:

O cristianismo não existe por seu próprio benefício, mas tem como sua missão final a realização dos propósitos de todas as religiões na história humana. Cristo do Segundo Advento, que vem como o centro do cristianismo, é o retorno do Maitreya Buda de acordo com os ensinamentos do Budismo, o Verdadeiro Homem que é esperado na tradição religiosa chinesa, e o Chongdoryong por quem muitos coreanos anseiam. Ele é a figura central cujo advento é esperado em outras religiões também.

Neste trecho fica ainda mais evidente que a expressão ‘figura central’ se refere única e exclusivamente ao Senhor do Segundo Advento, ou seja, não é uma terminologia que pode ser utilizada por qualquer outra pessoa. A vulgarização da terminologia e a utilização indevida tem sido a causa de vários erros, principalmente com o nivelamento de pessoas comuns e decaídas com a sacralidade e divindade da instituição Verdadeiros Pais de Céu, Terra e Humanidade.

A próxima citação está no Capítulo 6 – Predestinação, na seção 3, A Predestinação dos Seres Humanos, na página 173-174, que diz:

Vejamos agora a predestinação de Deus para as figuras centrais na providência de restauração. O propósito da providência de restauração de Deus… Portanto, na providência de salvação, Deus primeiramente predestina uma pessoa para ser a figura central e então chama esta pessoa para uma missão.

Quais qualificativos a pessoa deve possuir para merecer tal chamado? Primeiro, a figura central deve nascer no seio povo escolhido. A seguir, dentre o povo escolhido mesmo, ela deve descender de uma linhagem ancestral com muitas boas realizações. Dentre os descendentes desta linhagem ilustre, ela deve ser dotada com um caráter requerido. Entre aqueles com o caráter requerido, ela deve desenvolver as qualidades necessárias durante sua juventude. Finalmente, entre aqueles que tenham adquirido estas qualidades, Deus seleciona primeiramente o indivíduo que vive no tempo e lugar mais adequado à Sua necessidade.

Para ficar claro que utilizamos a terminologia ‘figura central’ de forma distorcida e incorreta, vamos elencar as qualificações demandadas para ser ‘figura central’:

1) Primeiro, a figura central deve nascer no seio do povo escolhido. Essa é a qualificação mais abrangente para ser figura central. É preciso nascer no seio do povo escolhido, o terceiro Israel, a nação que seguiu o curso modelo para assumir essa posição, ou seja, a Coreia. Para um melhor entendimento deste ponto, sugiro a leitura do item 3.3 – A nação do Oriente é a Coreia, no Capítulo 6 da Segunda Parte do Princípio Divino, o Segundo Advento.

2) A seguir, dentre o povo escolhido, ela deve descender de uma linhagem ancestral com muitas boas realizações. Para esclarecer esse requisito, a sugestão é a leitura da Autobiografia, onde o próprio Verdadeiro Pai relata o fundamento de sua linhagem ancestral.

3) Dentre os descendentes desta linhagem ilustre, ela deve ser dotada com um caráter requerido. Quando estudamos os primeiros anos de vida do Verdadeiro Pai, relatados nos Discursos Selecionados do Verdadeiro Pai, entendemos como sua personalidade e seu caráter foram forjados pelos Pais Celestiais para a missão que ele abraçou em idade tão tenra. Sugiro essa leitura.

4) Entre aqueles com o caráter requerido, ela deve desenvolver as qualidades necessárias durante sua juventude. A Autobiografia é um pequeno resumo, e os Discursos Selecionados podem acrescentar mais detalhes, para concluirmos que o Verdadeiro Pai aprendeu e praticou em sua juventude, tudo aquilo que tem compartilhado conosco até estes dias.

5) E finalmente, entre aqueles que tenham adquirido estas qualidades, Deus seleciona antes de tudo o indivíduo que vive no tempo e lugar mais adequados às Suas necessidades.

Através desta análise, fica óbvio que a terminologia ‘figura central’ tem sido utilizada indevidamente para aqueles que ocupam qualquer posição hierárquica no quadro organizacional da Igreja de Unificação. Para alcançarmos um entendimento ainda mais profundo sobre qual seria o papel de cada um de nós na realização da Providência de Restauração, se faz necessário uma análise dos papéis tangíveis que existem em nossa vida cotidiana, e como estes papéis interagem.

Vamos a eles. Temos basicamente quatro papéis que são frequentemente citados, mencionados, e muitas vezes confundidos:

1) Figura central;

2) Abel;

3) Líder;

4) Posição Hierárquica.

Estas são posições distintas e mutuamente excludentes, ou seja, elas são independentes e autônomas. O fato de se assumir uma destas posições (jamais a posição de figura central) não implica obrigatoriamente em se assumir qualquer outra, ou as demais.

Nosso erro mais comum é admitir que ao assumir uma posição hierárquica, automaticamente me torno líder como que por um passe de mágica; ao mesmo tempo passo a ser Abel por uma unção milagrosa, e me torno Figura central, rasgando todas a páginas do Princípio Divino que acabamos de citar anteriormente. O trágico é que muitas pessoas conduzem suas vidas de fé acreditando nessa falácia. E o mais trágico é que graças a essa presunção, o orgulho e a vaidade corroeram os corações dos incautos que desviaram muitos da fé verdadeira nos Verdadeiros Pais.

Quando vejo alguns presunçosos questionando as Palavras dos Verdadeiros Pais atualmente, me pergunto se uma das causas destas blasfêmias não teria sido essa teologia da Figura Central.

Sendo que já discutimos à luz do Princípio Divino a autoridade e dignidade da terminologia “Figura Central”, e estando claro que é indevido se referir a qualquer pessoa em qualquer posição hierárquica com essa terminologia, vamos analisar os demais papéis.

4) Posição Hierárquica –  Hierarquia é a ordenada distribuição dos poderes com subordinação sucessiva de uns aos outros, é uma série contínua de graus ou escalões, em ordem crescente ou decrescente, podendo-se estabelecer tanto uma hierarquia social, uma hierarquia urbana, militar, eclesiástica etc. A hierarquia é uma ordenação contínua de autoridades que estabelece os níveis de poder e importância, de forma que a posição inferior é sempre subordinada às posições superiores.

Originalmente o termo hierarquia possuía um significado religioso, onde a organização social das igrejas levou à formação de hierarquias cuja graduação era intangível por derivar da autoridade transcendental de cada camada social. Esse sentido religioso perdeu-se nas demais estruturas hierarquizadas, mas nelas sobreviveram a rigidez da graduação e a observância estrita das atribuições de cada autoridade. (fonte: http://www.significados.com.br/hierarquia/)

Neste sentido, fica claro que, para o adequado ordenamento de qualquer grupamento social, a estrutura hierárquica se faz necessária para o bom funcionamento deste grupamento, e assim, as posições são definidas e estruturadas em função do melhor funcionamento desta estrutura, e sempre visando o melhor para o grupo como um todo.

3) Líder – Liderança é a arte de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando de forma positiva mentalidades e comportamentos.

A liderança pode surgir de forma natural, quando uma pessoa se destaca no papel de líder, sem possuir forçosamente um cargo de liderança. É um tipo de liderança informal. Quando um líder é eleito por uma organização e passa a assumir um cargo de autoridade, exerce uma liderança formal.

Um líder é uma pessoa que dirige ou aglutina um grupo, podendo estar inserido no contexto de indústria, no exército, etc. Existem vários tipos de líder, que mudam em função das características do grupo (unidade de combate, equipe de trabalho, grupo de adolescentes).

O líder tem a função de unir os elementos do grupo, para que juntos possam alcançar os objetivos do grupo. A liderança está relacionada com a motivação, porque um líder eficaz sabe como motivar os elementos do seu grupo ou equipe.

Novas abordagens sobre o tema defendem que a liderança é um comportamento que pode ser exercitado e aperfeiçoado. As habilidades de um líder envolvem carisma, paciência, respeito, disciplina e, principalmente, a capacidade de influenciar os subordinados. (fonte: http://www.significados.com.br/lideranca/)

Exercer liderança é um tema para inúmeras e demoradas discussões, mas o que pretendo nesta reflexão é enfatizar que o aspecto de independência entre liderança e posição hierárquica fica realçada pela frase ‘sem possuir forçosamente um cargo.’ O fato de se assumir uma posição hierárquica não implica no exercício de liderança em seu verdadeiro significado, e também o exercício de uma verdadeira liderança não demanda obrigatoriamente assumir qualquer posição em uma organização. Podemos verificar que existem muitos chefes que não são líderes, e muitos líderes que não são chefes.

2) Abel – Esse termo também sofre muito de maus tratos na interpretação e no uso diário. A regra geral observada na prática cotidiana me faz pensar que o fato de se assumir uma posição hierárquica, me torno automaticamente Abel, como se esta fosse uma posição estática e estanque. Grande erro. Enorme engodo. Gigantesca blasfêmia contra o Princípio. Quando estudamos o Princípio Divino em sua Segunda Parte, especificamente a Introdução à Restauração, verificamos que a mensagem principal é esclarecer que a vinda do Messias é o foco central, e o Fundamento para Receber o Messias é a base, o alicerce para a vinda Substancial do Messias.

Especificamente vamos analisar o aspecto do Fundamento de Substância, dentro do Fundamento para Receber o Messias. Este Fundamento de Substância tem como objetivo central, eliminar a natureza decaída herdada a partir da Queda. Para maiores detalhes, sugiro a leitura da página 198 do Princípio Divino.

Basicamente este Fundamento de Substância precisa de duas posições bem definidas, uma representando a primeira Queda, a Queda Espiritual, e a outra representando a segunda Queda, ou a Queda Física. À luz do Princípio de Restauração, as duas situações são erradas, mas em termos da Finalidade da Criação, a Queda Espiritual estava totalmente fora do Princípio, ou seja, mais distante de Deus, enquanto a Queda Física, estava parcialmente fora do Princípio, ou seja, menos distante de Deus.

A posição do primeiro filho da família de Adão, Caim, representava a Queda Espiritual, ou seja, mais distante de Deus, e a posição do segundo filho de Adão, Abel, representava a Queda Física, ou seja, estava menos distante de Deus.

O objetivo destes dois personagens, Caim e Abel, era estabelecer a condição de indenização para remover a natureza decaída. Isto quer dizer que ambos tinham naturezas decaídas a serem eliminadas. Ambos precisavam estabelecer alguns passos para que essa natureza decaída fosse eliminada, e os dois pudessem ser ‘salvos.’

Mas a visão dualista cristã que muitos Unificacionistas ainda carregam na sua bagagem conceitual, ou seja, a ideia que um sempre tem que ser bom e o outro sempre tem que ser mal, tem distorcido a interpretação do próprio Fundamento de Substância. Além disso, o próprio modelo Caim – Abel da família de Adão contribui para que essa ideia seja mantida e perpetuada. Pelo fato de Caim ter cometido o assassinato contra Abel, condenamos Caim e inocentamos e santificamos o Abel. (Para entender os erros cometidos deste contexto Caim – Abel, sugiro a leitura dos Discursos Selecionados dos Verdadeiros Pais.)

Para entender como se eliminam as naturezas decaídas dos personagens Caim e Abel, cabe o estudo mais detalhado do Fundamento de Substância na família de Abraão-Isaque-Jacó, nas páginas 238 e 239 do Princípio Divino, e também a leitura do Gênesis Capítulo 33.

Quanto ao papel de Abel, todos devemos entender que é uma posição demandada a fim de eliminarmos a natureza decaída, tal como é também o papel de Caim. Em resumo, todos somos Abel em relação a alguém, e somos Caim em relação a outrém. O que define em qual posição eu estou é o mesmo Princípio de Restauração citado anteriormente. Se eu estou mais próximo de Deus em relação a uma pessoa, eu devo me comportar como um bom Abel em relação a essa pessoa. Se eu encontro alguém que esteja mais perto de Deus do que eu, então devo me esforçar para me comportar como um bom Caim em relação a esta pessoa.

Isso é necessário a fim de eliminarmos a natureza decaída e oferecermos a oportunidade de que todos sejamos salvos, chegando até Deus e os Verdadeiros Pais. Atualmente, esta lógica assume uma nova dimensão: Messias Tribal. Neste ponto, sugiro a leitura do livro Messias Tribal da série de livros de HoonDokHae.

O importante é salientar que estes não são papéis estáticos, e muito menos, que estejam vinculados à essa ou àquela posição hierárquica.

Para finalizar então, podemos concluir que existem os quatro papéis em nossa estrutura atual dentro do contexto da Providência de Restauração, e que somente os Verdadeiros Pais assumem a posição de Figura Central. Supor que outra pessoa poderia ser Figura central é supor, nas entrelinhas, que os Verdadeiros Pais fracassaram. Não sendo esse o caso, e conhecedores da grandiosa vitória dos Verdadeiros Pais de Céu, Terra e humanidade, cabe então uma reavaliação do uso indevido que temos dado a essa terminologia que enaltece a grandeza dos Verdadeiros Pais, e reconhece o papel messiânico de Salvadores e Portadores da Nova Cultura de Paz e Amor Verdadeiro para essa época da história providencial, que nunca ocorreu antes e que nunca se repetirá novamente na história da humanidade.

Quanto aos outros papéis, cabe também uma reavaliação sobre a importância de nos prepararmos para qualquer um deles, percebendo o que cada um destes papéis demandam de nós, em termos de vida de fé, de entendimento das Palavras dos Verdadeiros Pais, e da prática do Amor Verdadeiro, que nos impele a vivermos para o benefício dos outros.

Se você tem uma posição hierárquica, honre essa posição sendo um exemplo vivo do princípio dos Três Grandes Sujeitos.

Se você pretende ser um líder, exerça essa liderança para influenciar positivamente e de forma sagrada a vida das pessoas ao seu redor.

Sendo Abel, ou sendo Caim, seja sempre o Melhor para a graça e honra do nome dos Pais Celestiais e dos Verdadeiros Pais de Céu,Terra e Humanidade.

E lembre, para assumir apenas um destes papéis, é demandado muitos qualificativos, por isso, concentre sua vida naquilo que você realmente é o Melhor.  Seja um Filho de Piedade Filial.

Marcos Antonio Alonso é paulista, casado, 55 anos, formado em Administração de Empresas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná, MBA em Marketing for Business Advancement pela Universidade Federal do Paraná, MBA em Negócios Financeiros pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Paraná e é formado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Unificação.